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Aquele mês de agosto

Hello it’s me again! Olá sou eu outra vez!

Se já acompanham o meu blog desde o seu nascimento já sabem que este serve de portfólio ao meu trabalho e tem um pouco de humor. Mas muitas vezes nas nossas vidas existem momentos de profunda amargura que depois acabam por ser transformadores, chegando mesmo a influenciar o nosso trajecto profissional. São, em suma, momentos menos bons que nos fazem mais forte enquanto seres humanos.   



Desta forma, quero partilhar convosco o momento mais marcante e definitivo da minha vida. O momento vivido a 15 de agosto de 2017 e que, passe o que passe hei-de sempre recordar. Tentarei respeitar as memórias daqueles que partiram nesse terrível acidente, ao mesmo tempo que partilho convosco aquilo que de revigorante uma experiência traumática pode trazer nas nossas vidas. Quero mostrar cair e ir ao fundo faz parte das nossas vidas, mas que, se quisermos, podemos sempre reerguer e continuar a batalhar por aquilo que faz mais sentido: os nossos sonhos. 

Escrevo com palavras de cuidado para não ferir ninguém e escrevo sobre aquele dia, daquele mês de agosto. O texto abaixo escrevi-o no dia 15 de agosto de 2018. 

15 de agosto. Hoje, 1 ano. Hoje um dia que nunca mais esquecerei. 

Eu não queria escrever nada, para não arranjar mais confusões e discussões, mas nestes dias não tenho dormido descansado. Além disso penso que algumas pessoas ainda precisam de saber o que aconteceu naquele dia. Obviamente gostaria que a mensagem chegasse às cabeças ocas de alguns políticos! 


Em primeiro lugar, quero dizer que escrevo isto com o maior respeito pelas vítimas e o maior respeito pelos familiares das vítimas. Queria puder dar um abraço a cada um de vós que chora neste dia pelos seus. Em segundo lugar, sei que a vida tem de seguir em frente, é o se pede de normal para estas situações. Fizemo-lo com o 20 de fevereiro em 2010, depois com as tragédias com os incêndios que têm assombrado a região nos últimos anos e fizemos com tantos outros eventos por vezes exaustivamente abordados nas capas dos nossos jornais e nas notícias dos nossos canais televisivos. 

Mas neste caso não acho correcto, porque é ainda muito cedo e sobretudo porque se trata de um dia festivo. Um feriado celebrado por tantos para dar graças à padroeira da Madeira. 

Mais ainda, não acho justo para com aqueles que perderam a vida. Eu, que me considero um católico praticante, penso que Nossa Senhora do Monte não se importaria nada que saltássemos um ano. Não me venham com conversas a falar que este ano temos que ser movidos pela fé! Eu sou movido pela fé todos os dias e não preciso de uma festa de celebração de um santo para me lembrar da minha religião! Também aqueles que viveram comigo aquele dia não foram às novenas e não vão a lado nenhum neste dia, e mesmo assim não perderam a sua fé. Aquilo que os políticos querem é mostrar que está tudo tranquilo quando na verdade o Largo da Fonte é um espaço instável, um espaço temeroso, um espaço que precisa de ser renovado, que precisa de florescer de outra forma. 

Repito: não acho justo. Justiça aliás é uma coisa que ainda não se fez. Uns dizem uma coisa, outros dizem outra coisa totalmente distinta e ninguém se resolve ou chega a um consenso. Há ainda uns senhores que dizem “está tudo bem, podem ir à festa!”. Desculpe senhor estava no Largo da Fonte naquele dia? Eu estava e sobrevivi sem ferimentos físicos, mas com uma grande ferida psicológica e emocional. 

Nem 5 minutos tinham quando eu, a minha mãe, a minha avó, as minhas tias e os nossos primos estávamos a conversar naquele local. De repente ninguém sabia de ninguém e só queríamos saber se alguém se tinha magoado. Mais gritos, agora pessoas a dizer que haviam mortos.

Eu comecei a chorar e tremia tanto. Cheguei a vomitar. Pela primeira vez na minha jovem vida não consegui controlar o meu corpo. Eventualmente a minha mãe, que não me deixava por nada, acabou por avistar todos os outros meus familiares. Mas todos eles viram coisas que ninguém merecia ver. Havia sangue nalgumas roupas e sangue nos nossos corações. Depois só se ouviam sirenes, uma grande confusão. 
Desculpem-me dizer isto, mas tive pesadelos com todos aqueles que perderam as suas vidas. Seguiram-se outros pesadelos, com outras árvores e por baixo delas os rostos daqueles que eu mais amava. Gritava de noite e chorava ao acordar. E não houve nenhum dia 15 dos meses passados em que eu não me lembrasse.

Estou agradecido por voltar a ser quem era. Ou talvez não. Eu hoje sou uma pessoa completamente diferente. Passei a ter mais medo da morte e menos medo de viver. Passei a ver melhor onde estava o certo e onde está o errado. Escrevi isto não para que tenham pena de mim, mas para dar força para quem mais precisa dela. Para os filhos, filhas, pais, mães, avós, tios, tias, amigos e amigas, colegas de trabalho. 

Agora são mais 13, as almas que olham por todos vós, todos os dias! A maior e mais bela homenagem é não nos esqueceremos deles.

Eu tinha ido comprar velas. Quando regressava para junto da minha família, ouvi uma grande explosão no céu. Senti que alguma coisa de errado se passava. Tudo pareceu ter escurecido em meu redor.A minha mãe gritou o meu nome, duas ou três vezes e ainda disse “corre, corre”. Foi tudo uma questão de segundos. Eu corri, mas com medo de magoar outros que corriam e se desviavam ao mesmo tempo. Depois ouvimos gritos. Aqueles gritos que não cessavam. Fiquei noites sem dormir. Tive que recorrer aos comprimidos. 

Se me perguntam se eu estou bem, eu digo que agora sim. Continuo a sorrir e a dar estas gargalhadas que assustam todos. 

Sinto-me agradecido pelas pessoas que não se cansaram em me dar uma palavra amiga. Vocês sabem quem são e o que significam para mim. Obrigado, sinceramente, pelas mensagens, pelos telefonemas, pelas conversas, pelos beijos e pelos abraços.

Deixo igualmente uma TED Talk incrível sobre o processo de transformação que vive uma pessoa depois de passar por uma experiência como aquela que eu vivi. Ela foi dada pela brasileira Paola Antonini.





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